A instituição ICANN (Internet Corporation for Assigned Names and
Numbers), responsável por controlar a concessão de domínios e extensões
de internet no mundo, iniciou um processo que permitirá às empresas de
todo o mundo criarem milhares de novos endereços online. Na prática,
empresas como o Google e Microsoft, por exemplo, poderão ter domínios
.google ou .microsoft.
A concessão de novas extensões é o principal tema em debate no
encontro anual dos membros da ICANN, que acontece esta semana em Durban,
na África do Sul. Este processo é considerado importante para o
crescimento da web, uma vez que as extensões convencionais, como “.com”,
“.org” e “.net” estão praticamente estagnadas.
O processo para obter uma nova extensão é, aparentemente, simples.
Uma empresa ou organização (pessoas físicas não podem comprar novas
extensões) vai até a ICANN e faz o pedido. O domínio “.com”, por
exemplo, é de propriedade da empresa Verisign. No Brasil, o domínio
“.com.br” é controlado pela Registro.br, empresa ligada ao Comitê Gestor
da Internet (NIC.br) do Brasil e que decide quais domínios podem ter
essa terminação. Cada pedido ao ICANN de nova extensão custa 185 mil
dólares.
A abertura de pedidos para novos domínios gerou uma enxurrada de
solicitações, que são encarados por especialistas como um novo filão de
mercado na internet. “As marcas perceberam o forte efeito que a
extensão própria pode ter na questão de branding. Por isso, investiram
muito dinheiro em pedidos neste ano”, afirma o advogado Eduardo Otero,
especializado em propriedade intelectual na internet.
Apenas para a reunião desta semana, foram feitos 1930 pedidos. Apenas
o Google solicitou 101 novas extensões, incluindo termos como “.you”,
“.free” e “.play”, além de outras terminações inusitadas como “.lol”, ou
“.fyi”, por exemplo.
Alguns casos são simples e facilmente aprovados. Normalmente isto
ocorre quando o pedido está diretamente relacionado às marcas
conhecidas, como a rede Wal-Mart solicitar a extensão “.walmart”. No
Brasil, por exemplo, o portal Universo Online obteve permissão para usar
a extensão .uol. Em outras situações, no entanto, os pedidos feitos ao
ICANN são genéricos demais e solicitados por mais de uma empresa, o que
pode gerar conflitos. De todos os pedidos feitos durante encontro de
Durban, apenas 552 não geraram disputa.
Quando há conflito de pedidos, a comissão do ICANN se reúne e decide
qual empresa pode ter o direito de explorar aquela terminação. Em outros
casos de maior apelo ou polêmica, a entidade abre consulta popular para
saber se a terminação deve ser concedida. “Quando há mais de um
interessado por um termo, às vezes não é possível saber qual o critério
para definir quem será o dono do termo”, diz Eduardo Otero, advogado do
escritório carioca Daniel Advogados, especializado em marcas e patentes.
Alguns casos são ainda mais controversos. Entre os 76 termos pedidos
pela Amazon, que incluem “.video”, “.book” e “.app”, está o termo
“.amazon”. Os governos do Brasil e do Peru, que possuem parte do
território dentro da floresta Amazônica, solicitaram ao ICANN que o
pedido fosse negado. Os países alegaram que o nome em inglês da floresta
não pode ser exclusivo de uma marca. A comissão do ICANN decidiu,
então, negar o controle do domínio para a empresa de varejo americana.
Uma decisão semelhante também aconteceu em relação à extensão
“.patagonia”, que foi pedida pela marca de roupas de inverno de mesmo
nome. Patagônia é uma região do Sul da América do Sul, dividida entre
Argentina e Chile. De acordo com um comunicado da ICANN, “quando um
grupo de países afirma que uma extensão não pode ser aprovada, isso cria
uma forte presunção de que o domínio não pode ser autorizado”.
O advogado Eduardo Otero comemora a decisão. “Não é certo que esses
termos sejam apropriados por uma empresa ou marca. Em alguns casos, a
concentração da extensão pode não ser benéfica”, afirma.
Algumas empresas também pediram o direito de obter registros em
diferentes alfabetos. Três administradoras compraram o direito de
operação dos domínios “.rede”, “.website” e “.game”, em árabe, russo e
chinês, respectivamente. Para o presidente da ICANN, os novos domínios
devem internacionalizar ainda mais a administração da internet: “Irá
começar a nova era da internet. Mal posso esperar pelos próximos
acontecimentos”, afirmou o libanês Fadi Chehadé.
Cinco empresas brasileiras tiveram domínios próprios aprovados pela
ICANN: Itaú, Bradesco, Natura, UOL e Vivo. De acordo com o Otero, o
alto preço para o pedido é o principal entrave. “O valor de 180 mil
dólares ainda é um custo alto para uma extensão. Por isso, apenas as
grandes empresas têm condições de fazer as requisições”, afirma.
A composição do ICANN é de engenheiros e especialistas em internet de
todo o mundo, com predomínio de americanos. O ICANN é um órgão
subordinado ao governo dos Estados Unidos.
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