Uma reportagem do jornal New York Times
traz detalhes das conversas de Edward Snowden com o jornalista Glenn
Greenwald e a cineasta Laura Poitras. O complicado esquema de segurança
dos três incluía guardar smartphones na geladeira antes das conversas. E
um cubo mágico serviu de senha no primeiro encontro.
A reportagem é assinada pelo repórter Peter Maass, que está
escrevendo um livro sobre vigilância e privacidade. Ele conta que Laura
Poitras trabalhava num documentário sobre a espionagem americana quando
recebeu um e-mail de um estranho que dizia ter informações a
compartilhar.
Snowden, o estranho, pediu que ela enviasse sua chave criptográfica
pública. O código permitiu a Snowden mandar mensagens cifradas que só
ela, com sua chave privada, podia decifrar. Essa técnica, de
criptografia com duas chaves, é frequentemente usada para a troca de
mensagens sigilosas.
Snowden enviou, então, instruções a Laura sobre como reforçar a
segurança. O objetivo era impedir que a criptografia fosse quebrada por
meio de um ataque de força bruta com supercomputadores. Laura deveria
escolher frases longas para a geração das chaves criptográficas. “Assuma
que seu adversário é capaz de fazer um trilhão de tentativas por
segundo”, escreveu Snowden.
Laura não sabia com quem estava lidando, diz Peter Maass. Mas sabia
que era uma organização poderosa -- talvez a CIA, a NSA ou o Pentágono.
Snowden enviou a ela uma lista de ferramentas de espionagem que a
Agência de Segurança Nacional americana usa. Impressionada, Laura
desconectou seu computador da internet e removeu, dele, as informações
secretas.
Por causa de seus documentários, ela já havia sido interrogada
diversas vezes por autoridades americanas. Ela desconfiava que era
vigiada. Pessoas que ela havia entrevistado haviam tido seus
computadores apreendidos. Por isso, ela usava criptografia quando falava
com pessoas visadas.
Depois do contato com Snowden, Laura passou a usar computadores
diferentes para se comunicar, editar seus filmes e ler documentos
sigilosos. A máquina que ela usa para abrir os documentos fica sempre
desconectada da internet. “Laura estava mais cautelosa comigo do que eu
com ela; e eu sou notoriamente paranoide”, disse Snowden a Peter Maass.
A pedido de Snowden, Laura entrou em contato com Glenn Greenwald,
jornalista que vive no Rio de Janeiro e trabalha para o jornal britânico
Guardian. Era ela quem estabelecia as normas de segurança.
“Ela determinava que computadores eu usava, como me comunicava, como
deveria proteger as informações e onde as cópias seriam armazenadas”,
contou Greenwald a Peter Maass. Snowden enviou diversos documentos aos
dois. Em junho, eles voaram para Hong Kong para encontrar o espião.
As instruções eram precisas. Eles deveriam ir até a porta de um
determinado restaurante e procurar um homem com um cubo mágico nas mãos.
Deveriam perguntar se o restaurante estava aberto. Ele responderia que
sim, mas que a comida era ruim.
Esse primeiro contato evoluiu até que Laura e Greenwald foram ao
apartamento de Snowden. Lá, todos tiveram de remover as baterias de seus
celulares, que foram guardados dentro de um refrigerador. Snowden
também envolveu as portas com travesseiros para evitar que as conversas
vazassem.
Houve vários encontros como aquele, que foram filmados por Laura.
Algumas cenas deverão estar num futuro documentário dela. O que
aconteceu depois já é público. Os relatos de Snowden expuseram o
gigantesco esquema de espionagem da NSA.
As revelações trouxeram à tona as poderosas ferramentas da agência,
capazes de espionar quase tudo que as pessoas fazem na internet, e seus
muito braços ao redor do mundo, incluindo o Brasil.
Fonte: Info.
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